

Mato Grosso lidera em feminicídios: até quando vamos tolerar essa vergonha?
Cuiabá – É doloroso e, ao mesmo tempo, vergonhoso repetir semana após semana uma triste realidade: Mato Grosso está entre os líderes em feminicídios no Brasil.
Uma tragédia que mancha a imagem do Estado e expõe o fracasso do poder público em proteger as mulheres.
As leis existem. A Lei Maria da Penha e a Lei do Feminicídio estão em vigor, mas, de que adianta norma sem efetividade? De que adianta previsão legal se, na prática, a mulher que denuncia o agressor continua sem a certeza de que terá proteção real?
Em Mato Grosso, os fatores se acumulam: uma cultura machista ainda enraizada, distâncias geográficas que isolam comunidades inteiras e, principalmente, a falta de estrutura do Estado.
Faltam policiais militares nas cidades, faltam delegacias da mulher funcionando 24 horas nos polos regionais – hoje, apenas a capital conta com este serviço –, faltam políticas públicas contínuas, faltam abrigos seguros para acolher quem precisa fugir da violência, faltam casas de apoio e amparo. Sobra medo.
As mulheres não se sentem protegidas. Muitas sequer procuram a polícia porque sabem que a resposta do Estado será insuficiente para garantir a segurança necessária. O cenário é tão grave que algumas denúncias sequer chegam às autoridades, mas sim às organizações criminosas nos bairros, que aplicam sua própria “justiça paralela” com os chamados “salves”. Isso é prova concreta de que, quando o Estado falha, o crime ocupa o espaço.
Até quando Mato Grosso vai conviver com essa vergonha? Até quando vamos abrir os sites e encontrar mais uma mulher assassinada pelo homem que dizia amá-la?
O feminicídio não é apenas um crime contra a mulher. É um crime contra toda a sociedade, contra a Constituição e contra a humanidade.
É urgente convocar imediatamente todos os aprovados nos concursos da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros para fortalecer as Patrulhas Maria da Penha e o Policiamento Ostensivo Preventivo. O Estado precisa instalar Delegacias da Mulher em funcionamento 24 horas nas cidades polo, além de criar abrigos de proteção e casas de apoio às vítimas de violência doméstica.
Também é indispensável investir em educação para quebrar o ciclo do machismo que ainda alimenta esses crimes.
Mato Grosso é um Estado rico, pujante, gigante na produção agrícola e no crescimento econômico. Mas de nada adianta tanto progresso se continuarmos pequenos e frágeis naquilo que mais importa: a proteção da vida.
A cada feminicídio, não é apenas uma mulher que morre. Morre junto a esperança de justiça.
Chega de estatísticas. Chega de omissão. Ou o Estado assume a responsabilidade de proteger nossas mulheres, ou continuaremos a carregar, domingo após domingo, a mancha vergonhosa do feminicídio estampada nas manchetes.
Finalizo expressando minhas condolências à família da senhora Jacira Grampola da Silva, vítima neste domingo (17) na cidade de Sorriso. Rogo a Deus que conforte o coração dos familiares e amigos.
Peço ainda aos colegas das forças de segurança que façam de tudo para localizar esse covarde. Bandido como esse não merece viver em sociedade.
Alexandre Mendes – Cel PM (Veterano da PM-MT)
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